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A busca por fármacos de Luiz Carlos Dias

Professor da Unicamp fará conferência sobre sua pesquisa com doenças negligenciadas, como malária, Chagas e leishmanioses na 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.

O caminho de transformar uma molécula em um medicamento é longo, cheio de barreiras, e requer uma boa dose de disciplina e seriedade. É assim, com dedicação intensa e cercado de cientistas competentes, que o professor Luiz Carlos Dias (Unicamp) desenvolve um dos trabalhos mais importantes na química medicinal no Brasil. Ele coordena o Laboratório de Química Orgânica Sintética (LQOS), onde conduz linhas de pesquisa visando à síntese total de produtos naturais com atividade farmacológica pronunciada e metodologias sintéticas. Seu objetivo é chegar a fármacos eficazes contra doenças parasitárias tropicais negligenciadas pela indústria farmacêutica, como malária, doença de Chagas e leishmanioses. Na 41ª Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 21 a 24 de maio, em Foz do Iguaçu, Dias fará conferência sobre a evolução de seus projetos com a Medicines for Malaria Venture (www.mmv.org) e a Drugs for Neglected Diseases initiative (www.dndi.org), organismos internacionais de combate a doenças negligenciadas.

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Professor Luiz Carlos Dias (Unicamp): “As pessoas não têm uma percepção clara sobre a contribuição da ciência para a vida neste planeta. Precisamos trabalhar no sentido de diminuir a alienação da sociedade com relação à ciência e à tecnologia.”

“As perspectivas são excelentes, e temos resultados muito promissores, principalmente com a malária”, conta Dias. “Estamos aumentando o grupo com mais pós-docs, o nosso network, com a participação de mais instituições e empresas, e temos adquirido mais conhecimento sobre essa atividade de descoberta de fármacos, algo inédito no Brasil.” No LQOS, Dias e sua equipe recebem moléculas, projetam as rotas de síntese e modificações químicas, executam a síntese em si e realizam testes – no Brasil e no exterior – , para que essas moléculas venham a ser testadas em humanos. “Não basta você ter uma ótima atividade contra os parasitas in vitro. Nós temos moléculas que matam os parasitas causadores da malária e da doença de Chagas rapidamente, mas paramos de trabalhar com elas porque perderam atividade contra cepas resistentes, ou porque inibem canais hERG, interagem com quinases humanas, apresentam problemas de solubilidade, são inibidoras de CYP51, apresentam baixa estabilidade metabólica, alto clearance, toxicidade, ou baixo perfil farmacocinético e farmacodinâmico”, explica.

Para o diretor da Divisão de Química Medicinal da SBQ, Rafael Guido (IFSC-USP), a conferência será muito atrativa para os pesquisadores brasileiros, pois o professor Dias tem casos de sucesso para compartilhar. “Acompanho o trabalho do professor Dias e sua equipe, e eles fizeram progressos significativos na área de descoberta de compostos ativos para as doenças parasitárias nos últimos três anos”, declara.

Dias tem sido um dos mais ativos químicos nas redes sociais na defesa da ciência na questão da fosfoetanolamina sintética, que ganhou fama como a “pílula do câncer”, e que vem sendo vendida pela internet como suplemento alimentar e usada por pessoas na tentativa de tratar a doença. Com sua equipe, Dias realizou análise química e caracterização da substância em duas oportunidades diferentes (veja edições 1217 e 1285 do Boletim Eletrônico SBQ) e demonstrou diversas diferenças entre o que a mistura continha e o que era alegado que ela continha. “Este caso é típico da falta de conhecimento científico básico da população”, reflete o professor. “Nossos parlamentares e assessores necessitam urgentemente ser informados sobre temas de ciência e tecnologia, para evitar absurdos como esse.”

Formado na UFSC, doutor pela Unicamp, com pós-doutorado em Harvard, Dias tem 108 artigos publicados, com mais de 2.800 citações e índice H 30 pelo Web of Science. É professor titular da Unicamp onde iniciou suas atividades como docente em 1992. Orientou 26 alunos de mestrado, 16 de doutorado, 28 de iniciação científica e supervisionou 20 pós-doutorandos e 3 estagiários. Em 2008, teve seu laboratório credenciado pela Organização Mundial da Saúde (WHO) como centro de referência mundial para síntese de compostos para tratamento da Doença de Chagas.

Além da conferência de Dias, a Divisão de Química Medicinal realizará na 41ª RASBQ as seguintes atividades: Workshop de Química Orgânica e Medicinal “Da Academia até a Iniciativa Privada”, a sessão temática “A Química da vida: da célula ao reator”, e o minicurso Planejamento de fármacos.

Texto: Mario Henrique Viana (Assessor de Imprensa da SBQ)

Fonte: Boletim da Sociedade Brasileira de Química 1305 de 15/02/2018

Mais informações: http://boletim.sbq.org.br/noticias/2018/n3137.php